domingo, 1 de janeiro de 2012

CARTA-SUICIDIO

Ei, esta é uma história de ficção, okay?
Foi a primeira história que consegui terminar. Escrevi ela faz uns três anos e nunca mais vi ela desde então. Hoje que resolvi dar uma relida e postá-la. Este blog voltará a funcionar!

Se vocês estão lendo essa carta, significa que minha consciência jaz na escuridão. Vocês devem estar se perguntando porque fiz isso, o que é natural. Embora seja complicado e contraditório, vou tentar explicar a vocês - e vocês merecem uma explicação - as razões que me levaram a terminar minha vida.
Como vocês sabem, nunca fui social e sempre tive poucos amigos (aliás,vocês eram meus únicos amigos). Não se importava com isso, sempre soube que estava condicionado a timidês. Por ironia, a única vez da minha vida em que tentei agir como um cara extrovertido, foi a noite em que conheci vocês. Mas não pensem que era solitário, vocês me davam apoio o suficiente. Porém tudo mudou quando terminei a faculdade.
Desde criança, os números nunca foram um problema para mim. Todos acreditavam acreditavam que eu seguiria uma carreira como matemático ou físico (inclusive eu), porém, no último ano da escola, surpreendi-me escolhendo psicologia. Olhando agora para o passado, vejo que o que me levou para a área de humanas e afastou-me dos números de mim foi o meu irmão Paulo (que na época era ainda um bebê).
Quando eu tive meu primeiro contanto com meu irmão, assustei com o quanto ele gritava (ainda me pergunto de onde vinha tanta energia). À princípio, acreditei que ele chorava simplesmente por chorar. Contudo, percebi que por trás de cada grito, havia um desejo. Quando ele tinha fome, ele chorava. Quanto sujava sua fralda, chorava. Quando simpeismente sentia-se solitário e queria carinho, chorava. Fascinava-me vê-lo expressar seus sentimentos tão espontaneamente. E isso fez ver-me o quanto os seres humanos podiam ser interessantes.
O comportamento humano começou a me interessar muito. Tornou-se frequente minhas idas a praçinha do meu bairro (morava ainda em Lud), onde eu eu sentava num banco e observava as crianças reunidas brincando na areia. Preste atenção nisso, porque é muito importante para que vocês possam me entender: por mais eu tenha passa horas olhando para aqueles meninos se divertindo (e se sujando) naquela pequena porção de areia, o que na verdade eu queria entender era eu mesmo. Não conseguia compreender meus sentimentos. Não encontrava uma explicação sobre por que alguns dias eu simplismente acordava durante a noite triste e deprimido e sentia-se com se tudo fosse irreal e vazio.
Mas eu não era pessimista, caros amigos, ao contrário. Acreditava que se conhecesse bem a alma humana poderia eliminar totalmente a tristeza da minha vida.
Os meses foram passando, o vestibular chegando e as tristeza e a melancolia tornando-se frequentes. Eu estava começando a ficar desesperado. Minha mãe via eu ficar cada vez mais tímido e fechado, mas nunca desconfiou que eu pudesse estar entrando em depressão. Há outra coisa que vocês precisam saber para me compreender: eu era inconscientemente muito orgulhoso. Nunca admiti isso antes, mas agora percebo que essa é a verdade. Achava que muito pessoas já tiveram problemas semelhantes aos meus, o que provavelvemente é verdade, e que alguns obtiveram soluções para eles. Talvez se eu tivesse buscado conhecer a que conclusão chegaram, meu sofrimento fosse muito. Mas entendam: no momento em que decidi cursar psicologia, decidi que seria o melhor psicólogo. Pensava que se não conseguisse vencer sozinho a tristeza - talvez o maior dos inimigos do homem - não poderia ser o melhor. E eu tinha sonhos, sim,  sonhos grandes! Como todo adolescente, eu sonhava em mudar o mundo. Libertar a humanidade da tristeza e tornar-se um dos grandes filósofos da Histórias.
Então eu entrei na faculdade. Quando contei á minha mãe que passei no vestibular, vi seus olhos chorarem. Ela chamou todos os nossos parentes e fez uma festa gigante.Nunca a vi tão feliz em minha vida, e por uma noite, não havia dor.
A expectaviva que eu tinha da faculdade era uma experança tola de mudança. Esperava que tudo iria melhorar quando sentasse pela primeira vez na sala de aula. Imaginava-me tornando um cara social cercado de amigos, pegando garotas, indo a festas e voltando para casa completamente bêbado.É engraçado ver como eu era tolo. Entendam que eu não considero ser aquele cara algo ruim, mas isso não era vida para mim. E foi somente quando entendi isso que minha vida realmente mudou.
A primeira impressão que tive dos meus colegas é que eles eram um bando de filhos-da-puta. O que não deixava de ser verdade para a maioria deles. Muitos  estavam ali porque tinham a ilusão de que o curso de psicologia lhes dariam a habilidade de manipular os outros. Outros simplesmente porque achavam que ser psicólogo soava bem. Eu ficava quieto em minha carteira observando-os. E fui percebendo como seus comportamentos eram comuns e realmente previsíveis. E infantis. Não havia muita diferença entre eles e as crianças da praçinha de Lud (que eu continuava a frequentar).
Passaram-se dois anos até que houvesse uma real mudança em minha vida.Até então, minha rotina pouco mudara, mas eu muito aprendera. Acumulara um grande conhecimento (porém longe de suficiente) do comportamento comum das pessoas comuns. Os meus colegas de sala tornaram-se extremamente previsíveis para mim; divertia-me tentar prever que reações teria sob determinadas situações(algumas eu mesmo provocava). A imagem que eles tinham de mim era a de um cara esquisito e totalmente anti-social. Provalmente por causa das minhas estranhas perguntas que até vocês já responderam.
Diferente deles, o comportamento das crianças de Lud dificilmente podia ser previsto. Impressionava-me suas expontaniedade e liberdade. Sim, eram mais livres que os colegas da faculdade, meus amigos. Seus comportamentos não eram limitados por valores morais, tolas ilusões, e nem pela opinião alheia. Eu admirava (e invejava) a alegria deles. E era isso que me fazia continuar a observá-las. "A felicidade está aí", eu pensava."Eles estão alegres porque simplesmente vivem, não tentam resolver os problemas do mundo e ainda não tem os seus. São livres e simples. Mas a felicidade não esta apenas na simplicidade.É necessário ainda mais alguma coisa."
E então eu conheci vocês. Nós sempre se perguntamos como eu fui parar na república no fim da noite. Talvez se estivéssemos sóbreos o suficiente para lembrar, tudo fosse diferente. Posso dizer que fui convindado para ir a festa (eles queriam fazer piada, achando que eu não iria). Lembro da Luiza gargalhando enquanto dizia "o Ben ir a uma festa?HAHAHAHA!!!". Aceitei o convite porque queria por em prática uma ideia que vinha crescendo a algum tempo: agir como um cara 'descolado' para ver a reações das pessoas. No fim, a tentativa mostrou-se inútil, bebi tanto na festa (pessoas descoladas bebem) que nada consegui recordar. Quando tento relembrar os acontecimentos, sinto que há uma espécie de névoa escura encobrindo as lembranças. A única coisa que vem é eu sendo acordado pelo Ana "Ei,ei ,moço, acorde!", ela dizia. E quando eu finalmente eu acordei e sentei no tapete em que dormira, ela perguntou: "Moço, desculpe te acordar, mas quem é você?". Então vocês foram chegando e se aproximando e alguém (acho que era o Capivara) gritou "quem é esse guri?".
 Logo estava sentado na mesa comendo o café da manhã com vocês, quieto, observando-os conversarem entre si. Espantava-me o relacionamento entre vocês. Via e ouvia vocês tratarem uns aos outras com carinho, rindo piadas que vocês entendiam, falando com intimidade como se não houvesse um completo desconhecido a mesa. E vocês eram muito estranhos. Entendam isso como um lisonja, porque suas estranhezas me fascinavam. O esquisito e diferente sempre me atraíram.
À princípio achei que vocês fossem pessoas comuns. Que seriam mais uns vivendo sob sombra do que é modinha e "normal" (como já disse muitas para vocês, não acredito no normal). Estavam conversando sobre novelas e isso me aborrecia. Então o assunto da conversa tornou-se os problemas pessoais da Ana, e ela relatava seus sentimentos com tanta profundidade que eu me impressionava. E fiquei surpreso quando vocês perguntaram a minha opinião sobre algo que era tão pessoal. A conversa passou por diversos assunto e eu achava incrível a variabiliadade. Comecei a achar vocês muito legais e interassentes e um forte desejo de conhecê-los profundamente surgiu. E foi isso que fez eu passar o dia  com vocês.
Estava muito alegre e animado quando voltei para casa. Dejesava vê-los logo. Fiquei extremamente feliz quando a Ana me convidou para retornar a república no dia seguinte. Quero que vocês entendam o quanto foram importantes para mim. Lembrem-se: tudo que eu queria era acabar com a minha tristeza e melancolia que me acordava quase todas a noites e achava que eu deveria conhecer o profundo da alma humana para encontrar a luz para o meu problema. Vocês eram especiais, diferentes; eu sentia isso. Quando eu estava com vocês (coisa que tornou-se muito frequente a partir daquele dia) minha compreensão aguçava, minha percepção elevava-se. Eu via tudo e todos e compreendia a razão por trás de cada ato das pessoas. A proximidade com vocês fez com que eu realmente pudesse entender as mentes das pessoas. Eu sentia que realmente estava perto da felicidade; que o tempo, no fim, me traria a verdade com o vento. E eu estava convicto de que poderia mudar o mundo. Tolas ilusões!
 Foi somente na último ano da faculdade que o vento chegou. Mas não era a verdade que ele trazia. O que o tempo enviara fora algo extremamente frio, cruel e simples.Típico dele. Minha mãe e meu pai foram encontrados mortos na cozinha.
 Peço perdão a vocês por nunca ter-lhes contados isso, por ter mentido quando vocês me perguntaram porque eu estava pedindo para morar na república. Entendam, eu realmente não queria vê-los tentando me consolar. Temia que vocês entristessessem e que isso fizesse vocês perderem aquela energia que fazia meu cérebro trabalhar tão bem. E eu era muito orgulhoso, lembrem-se, não desejava que vocês tivessem pena de mim.
 Entretanto, a morte de meus pais não fora de todo mal. Ao contrário, ela abrira minha mente. Foi um golpe que me depertou para a realidade. E eu me senti um fracassado, um idiota, um imbecil. Vi todas as minhas esperanças de uma vida sem sofrimento, sem a dor dissolverem-se no vazio. Por um momento, acreditei que minha vida seria uma eterna melancolia, que eu estava fardado a sofrer. Então, quando senti minha determinação retornar, e as ilusões de uma vida melhor inundarem meu coração, veio a compreensão destruindo todos os alicerces da minha recém recuperada esperança.
É interessante ver como a minha vida foi influenciada por acontecimentos externos. Imaginava-me sempre como uma pedra sólida indo em direção a alvo a qual foi arremessada. É interessante também que só agora, ao escrever esta carta a vocês, que percebi o quanto estava errado. Imagino que se meu irmão não tivesse nascido, minha luta contra a dor jamais teria plenamente começado e que se meus pais morressem antes de que eu conhecesse vocês, minha dor poderia jamais ter acabado. Morte e vida, meus amigos! No fundo, essas foram (e são) as únicas coisas que importaram para o homem. Uma eterna tentativa de dar (ou encontrar) um sentido à vida e à morte. Comigo não foi diferente, e, infelizmente,  com vocês também não será. Mas não venham a ser pessimistas! É essa busca por sentido que faz a vida realmente ter sentido! É essa constante luta pelo impossível, pela verdade, pela paz, pela total liberdade, pela plena felicidade que torna o homem tão interessante! Essa batalha nos faz ser tolos e ao mesmo tempo especiais, únicos! Por que eu tomei a decisão de tirar a minha vida? Por que não suportei a compreensão de que por mais eu tentasse fazer alguma coisa minha vida sempre seria marcada por momentos de júbilo e momentos de dor? Não! Absolutamente não! Eu vou fazer isso simplesmente por que...eu compreendi. Minha busca encerrou-se e a partir de agora tudo perdeu o valor pra mim. Tudo é vazio. Ora, vocês já ouviram falar de algum suicida que não tenha visto o vazio e sentido ele consumir toda a sua alma? Contudo entendam: é com um enorme sorriso que puxarei o gatilho. Mas querem saber o real motivo do meu suicido? Mais uma vez o meu orgulho! Não aceitarei viver sob uma ilusão. Minha vida termina assim como minha busca. Meu orgulho não me permitirá criar um novo objetivo para minha vida. Não viverei uma constante sequencia de objetivos de vidas cada vez maiores. Minha vida limita-se à compreensão.


             Para os meus amigos Ana, Luiza, Paulo, Roberto e Carlos Capivara:
                                                                 
                                                          Um verdadeiro adeus!

                                                                    Amo vocês!